Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Diário da Enchente

Inspirado no Diário da Pandemia – uma pessoa por dia, um dia de cada vez, iniciativa de Julia Dantas – o Diário da Enchente reúne relatos sobre a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Editado por Luís Felipe dos Santos (@lfds85) e Raphaela Flores (@rapha_donaflor). Foto: Isabelle Rieger.

Jorrar e não arrebentar, por Camila Sequeira

(Esse texto foi escrito num primeiro dia de sol após quase um mês inteiro cinza chumbo. Maio encheu a gente de chumbo sem dar tempo de tentar se levantar. Desprevenidos, a gente aprendeu a contar com quem nunca precisou e precisou ser ser braço e abraço numa rede infinita que se estendeu até o olho ficar bem pequenininho pra enxergar e deixar correr lágrima. Foi tempo de muita água fora e de dentro pra fora. E nunca secou).

 

O sol sempre foi o meu amor. Hoje, mais do que nunca. Que saudade.

Há quase um mês a gente vive nesse pesadelo cinza e úmido. A sensação é que nunca termina e que se vive o mesmo dia todo dia e mais um dia.

São tantas dores e camadas de (des)informações que o mental não dá mais conta e pressiona o emocional que já desistiu de peitar o mundo. Tá tudo tão triste.

Como eu nunca vi.

Olhar pra nossa tristeza gera culpa. É fato dado. “Tem tanta gente perdendo tudo…”, diz o pensamento em looping a todo momento. Respira. Mais uma vez.

E segue o exercício diário de assimilar que cada um sabe das suas dores. Mas que a dor do outro dói muito em mim e que quando ela é coletiva, como é que faz pra se erguer e erguer você? Respira. Mais uma vez. Se acolhe e assim vai acolher o mundo.

Será que chove? JORRA!

Ampara, apoia e aprende um pouco mais sobre esse monte de coisas que a gente tá sentindo. No coletivo a gente se ergue, eu sempre soube.

E o sol nunca foi tão esperado.
Já tenho um sorriso aqui guardado pra ele em algum lugar. Só tenho que procurar.

Me cuida, te cuido, se cuida, cuidamos.

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