Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Diário da Enchente

Inspirado no Diário da Pandemia – uma pessoa por dia, um dia de cada vez, iniciativa de Julia Dantas – o Diário da Enchente reúne relatos sobre a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Editado por Luís Felipe dos Santos (@lfds85) e Raphaela Flores (@rapha_donaflor). Foto: Isabelle Rieger.

Estado de cheia, por Lisete Pozatti

Terça-feira, 30/04, saí cedo de Eldorado dos Sul para trabalhar em Porto Alegre.

Chovia muito e a BR 290 partiu, atrás de mim. E me partiu.

Estou na quarta casa desde esse dia.

Hoje, 08/05, aqui não tem mais Porto nem nada Alegre.

No Sul, estamos sem Eldorado, o Gramado desabou, o Cruzeiro do Sul desapareceu e Canoas afundaram junto com carros, pontes, estradas, pertences, pessoas…

Nem porto, nem alegre, nem eldorado, nem canoas, nem pertences, nem pessoas, nem ambientes!

Estarmos vivos, na situação atual, é MAIS que uma reflexão; é um pacto, um compromisso com o meio ambiente, que urge solidariedade, humildade, indignação, emoção, força, surpresas e união… e clama por busca de alternativas viáveis, com rapidez, apoio, porém com necessidade de planejamento a curto, médio e longo prazo coordenado com ação, saber, tecnologia, força, união, responsabilidade e coração…

Na minha casa, há água até o teto. Mas, com amigos, não estou no fundo.

POA, 08.05.2024, 16 h, chove. Lisete Pozatti

 

Cidade (em) Baixa 

Cidade (em) Baixa. Embaixo d’agua. Sem luz. Sem barulho. Sem competência política e técnica. Sem consciência sobre a causa e do poder da Terra. Nível alto das águas e baixo dos humanos, por muito tempo.  Baixa da água. Surge terra, lodo, lixo. Surge o melhor e pior da espécie humana. Surpresas, (in)certezas, mentiras   e verdades. Baixa da cidade. Afundada por causa do entulho de toda espécie. Nível das águas do Rio Grande, pode subir. Nível de consciência, indignação e doença, pode subir. A Terra nivela e deixa, à mostra, o seu poder. É hora de ir. De casa sair. A estrada rompe. A ponte cai. O morro desmorona. Paredes desabam. Bairros e seres desaparecem. Coisas e seres se misturam, à margem de calçadas e ruas da Cidade Baixa que, por um tempo, só acessadas de bote.

O que já foi margem e Praia de Belas, virou um novo algo, e o será, por muito tempo.

POA, 21.05.2024, 04 h. Lisete Pozatti

Uma resposta para “Estado de cheia, por Lisete Pozatti”

  1. Avatar de cqxubjomoo

    Muchas gracias. ?Como puedo iniciar sesion?

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