Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Diário da Enchente

Inspirado no Diário da Pandemia – uma pessoa por dia, um dia de cada vez, iniciativa de Julia Dantas – o Diário da Enchente reúne relatos sobre a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Editado por Luís Felipe dos Santos (@lfds85) e Raphaela Flores (@rapha_donaflor). Foto: Isabelle Rieger.

Conterrâneos da solidariedade, por Alziro Rodrigues

*Texto enviado no dia 19 de maio de 2024.

Me pego, às vezes, olhando os números, as estatísticas, temeroso de que tenham aumentado. Antecipo o sofrer de meus conterrâneos, num comportamento triste, meio sombrio até, mas tantas vezes inconsciente e difícil de controlar. Penso nas pessoas, às centenas, milhares atingidas que foram por mais um evento climático extremo. Tão extremo que lhes zerou a vida.

Para muitos gaúchos será uma penosa e desafiadora retomada de uma vida que ainda vai começar, levando na guaiaca apenas memórias, lembranças e afetos. Pessoas de todas as idades, famílias inteiras terão de reiniciar uma jornada que durante muito tempo será marcada pela esperança, pela determinação e pela força mental. De todos. Com todos. Para todos.

Recomponho meus pensamentos e deixo de lado os números, pois não são esses que importam, já que fazem parte do passado engordando mórbidas estatísticas. Temos que olhar para a frente, para o futuro. Temos muito o que fazer. Tenho muito o que fazer. O mantra é sempre o mesmo: ajudar.

Estamos vivendo a “pandemia gaúcha”, com muitos de meus conterrâneos em isolamento, muitos deles fora de casa e outros tantos fora do coração. Nossa vacina, no entanto, já chegou e a cada dia chegam mais doses; o nome dela é solidariedade. Em meio à dor e ao sofrimento emergiu uma onda imensa de solidariedade, compaixão e empatia. Contamos aos milhares os salvamentos, as doações e as mensagens de apoio. Perdemos a conta de quantas pessoas se envolveram em serviços de resgate, de distribuição de água, de alimentos e de auxílio a toda vida. A todos os conterrâneos. Meus, seus, nossos.

Somos todos conterraneus (do latim), pessoas que compartilham a mesma terra que outras. A mesma Terra. Falo com amigos em diferentes cantos do mundo e todos se solidarizam e querem ajudar. Alguns choram com o sofrer de nossos conterrâneos. Não sei bem como é chorar em outras línguas, mas sei que o afeto é genuíno, espontâneo, humano! E a ajuda mobiliza esforços para fazer chegar aos pagos do Rio Grande todo tipo de donativo. Roupas, alimentos e água. Em meio a tanta água.

E o maior donativo de todos, e de qualquer um, é o tempo. Para resgatar, para cuidar, para abraçar e até para chorar junto. Um tempo que faz com que milhares de pessoas dediquem-se a ajudar conterrâneos. Tempo para checar armários e separar doações cuidadosamente organizadas para entregá-las pessoalmente em um ponto de apoio. Tempo para ir a uma agência dos correios e enviar afeto e esperança dentro de pacotes. Tempo para auxiliar em abrigos e mesmo em resgates, gerando uma legião de verdadeiros heróis. Tempo para ajudar. Tempo para a solidariedade.

Há pessoas que com sua genuína solidariedade fazem uma grande diferença no nosso mundo (e como ele precisa disso!). São pessoas que doam sem esperar nada em troca, mas apenas com a esperança de ajudar e fazer as coisas acontecerem. Pessoas que relutam em defender seus próprios interesses e que estão dispostas a largar tudo para ajudar os outros, em qualquer momento, mesmo durante uma enchente.

Se nossos conterrâneos estão passando por um momento único e dolorosamente trágico na história do Rio Grande do Sul, também estamos vivendo um tempo de humanidade em que a positividade fala mais alto por meio da linguagem da solidariedade. E isso nos faz, todos, mais felizes. Afinal, fazer o bem sem olhar a quem é uma lição que guardamos na memória. Se soubéssemos o quanto a ação solidária e generosa, sem esperar reconhecimento ou retribuição, nos torna mais felizes, certamente seríamos, todos, solidários sempre.

Vai passar!

Força Rio Grande da Solidariedade!

Uma resposta para “Conterrâneos da solidariedade, por Alziro Rodrigues”

  1. Avatar de Your code of destiny

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