*Texto enviado no dia 19 de maio de 2024.
Me pego, às vezes, olhando os números, as estatísticas, temeroso de que tenham aumentado. Antecipo o sofrer de meus conterrâneos, num comportamento triste, meio sombrio até, mas tantas vezes inconsciente e difícil de controlar. Penso nas pessoas, às centenas, milhares atingidas que foram por mais um evento climático extremo. Tão extremo que lhes zerou a vida.
Para muitos gaúchos será uma penosa e desafiadora retomada de uma vida que ainda vai começar, levando na guaiaca apenas memórias, lembranças e afetos. Pessoas de todas as idades, famílias inteiras terão de reiniciar uma jornada que durante muito tempo será marcada pela esperança, pela determinação e pela força mental. De todos. Com todos. Para todos.
Recomponho meus pensamentos e deixo de lado os números, pois não são esses que importam, já que fazem parte do passado engordando mórbidas estatísticas. Temos que olhar para a frente, para o futuro. Temos muito o que fazer. Tenho muito o que fazer. O mantra é sempre o mesmo: ajudar.
Estamos vivendo a “pandemia gaúcha”, com muitos de meus conterrâneos em isolamento, muitos deles fora de casa e outros tantos fora do coração. Nossa vacina, no entanto, já chegou e a cada dia chegam mais doses; o nome dela é solidariedade. Em meio à dor e ao sofrimento emergiu uma onda imensa de solidariedade, compaixão e empatia. Contamos aos milhares os salvamentos, as doações e as mensagens de apoio. Perdemos a conta de quantas pessoas se envolveram em serviços de resgate, de distribuição de água, de alimentos e de auxílio a toda vida. A todos os conterrâneos. Meus, seus, nossos.
Somos todos conterraneus (do latim), pessoas que compartilham a mesma terra que outras. A mesma Terra. Falo com amigos em diferentes cantos do mundo e todos se solidarizam e querem ajudar. Alguns choram com o sofrer de nossos conterrâneos. Não sei bem como é chorar em outras línguas, mas sei que o afeto é genuíno, espontâneo, humano! E a ajuda mobiliza esforços para fazer chegar aos pagos do Rio Grande todo tipo de donativo. Roupas, alimentos e água. Em meio a tanta água.
E o maior donativo de todos, e de qualquer um, é o tempo. Para resgatar, para cuidar, para abraçar e até para chorar junto. Um tempo que faz com que milhares de pessoas dediquem-se a ajudar conterrâneos. Tempo para checar armários e separar doações cuidadosamente organizadas para entregá-las pessoalmente em um ponto de apoio. Tempo para ir a uma agência dos correios e enviar afeto e esperança dentro de pacotes. Tempo para auxiliar em abrigos e mesmo em resgates, gerando uma legião de verdadeiros heróis. Tempo para ajudar. Tempo para a solidariedade.
Há pessoas que com sua genuína solidariedade fazem uma grande diferença no nosso mundo (e como ele precisa disso!). São pessoas que doam sem esperar nada em troca, mas apenas com a esperança de ajudar e fazer as coisas acontecerem. Pessoas que relutam em defender seus próprios interesses e que estão dispostas a largar tudo para ajudar os outros, em qualquer momento, mesmo durante uma enchente.
Se nossos conterrâneos estão passando por um momento único e dolorosamente trágico na história do Rio Grande do Sul, também estamos vivendo um tempo de humanidade em que a positividade fala mais alto por meio da linguagem da solidariedade. E isso nos faz, todos, mais felizes. Afinal, fazer o bem sem olhar a quem é uma lição que guardamos na memória. Se soubéssemos o quanto a ação solidária e generosa, sem esperar reconhecimento ou retribuição, nos torna mais felizes, certamente seríamos, todos, solidários sempre.
Vai passar!
Força Rio Grande da Solidariedade!
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