Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Diário da Enchente

Inspirado no Diário da Pandemia – uma pessoa por dia, um dia de cada vez, iniciativa de Julia Dantas – o Diário da Enchente reúne relatos sobre a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Editado por Luís Felipe dos Santos (@lfds85) e Raphaela Flores (@rapha_donaflor). Foto: Isabelle Rieger.

O nosso possível, por Ana Maria Rosa

*Texto enviado no dia 16 de maio de 2024.


Encher o coração de alegria por estar fazendo alguma coisa, finalmente. Algo além de esperar, além de transferir dinheiro de conta bancária, além de separar o que pode ser doado. A esperança de que agora, no movimento, no fluxo da vida, você será realmente necessário – com todo o seu corpo, a sua força completa.


O voluntariado traz para cada um emoções que contemplam o grande desafio que a sociedade enfrenta como um todo: os espaços precisam ser preenchidos, a vida precisa continuar existindo.


Mas essa mesma alegria que desperta ao se fazer possível a oferta de ajuda, se transforma em seguida na falência completa do ânimo: é só uma família, é só uma refeição, são só poucas pessoas… E o restante?


A dinâmica é tão rápida que antes mesmo do regozijo já se instala a tristeza e a angústia. Aparecem naquele espaço onde você sabe que não é capaz, de fato, de dar conta dessa tragédia. O tamanho das dificuldades é maior do que um voluntário, maior do que todos os voluntários juntos, maior talvez do que o Estado inteiro empregado nesse propósito. Desta vez é como se realmente não se pudesse dar conta.


Aos poucos, depois da angústia, com um certo limite de tolerância ufanista, se acredita novamente que algo está sendo feito, que seremos capazes, que haverá vida depois da morte. 


O meu pouco, o seu pouco, o tanto de outro… O nosso possível.


Assim será daqui para a frente: o nosso possível. 


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