*Texto enviado no dia 17 de maio de 2024.
Sou um desalojado da enchente, mas não faço parte das estatísticas oficiais. Duplamente excluído, portanto.
Desde quarta-feira da semana passada, minha mãe e eu estamos num hotel. O apartamento em que moramos, na Avenida Borges com Riachuelo, o icônico Edifício Tabajara, não tem luz nem água há uns quinze dias. A água da enchente parou a duas quadras dele.
Agora, escuto conversas no café da manhã de gente de todas as partes do país que veio para ajudar no resgate e no atendimento dos portoalegrenses e gaúchos. Agentes do SUS Nacional, da Defesa Civil de outros estados, da Força Nacional.
Nessa quarta-feira, cinco caminhões geradores da CEMIG, a empresa estatal de energia de Minas Gerais, estacionaram na porta do hotel. Vieram, me informou um dos funcionários da empresa para devolver energia para Porto Alegre ou para as combalida estações de bombeamento da cidade. “Só aguardamos a definição da Equatorial para saber onde atuaremos”, me informou na quarta-feira à tarde um dos integrantes do comboio mineiro. “Ainda aguardamos um decisão da Equatorial para saber onde atuaremos”, me informou outro funcionário da CEMIG no elevador do hotel. Eram 11h da manhã de quinta-feira. Cada caminhão poderia fornecer luz para um bairro inteiro da cidade.
Pior do que desalojado e ser desalojado da esperança.
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