*Texto enviado no dia 17 de maio de 2024.
Na noite de quinta-feira, eu vi a água chegando, invadindo a rua pelos bueiros. O Guaiba na cota de inundação.
Na sexta-feira de manhã, tirei o carro da garagem. A água já invadia o pátio.
De tarde, chegou na cozinha. O que não era novidade pra quem mora no bairro São Geraldo, um dos mais atingidos por enchentes no Quarto Distrito.
Mas de noite, inundou tudo.
A geladeira dupla boiava, junto com o fogão novo que a falecida mãe comprou no ano passado. Fui dormir no segundo andar, junto com os inquilinos da pousada.
Acordei com barcos passando na janela. Mandavam sair.
Resistimos por mais um dia, achando que ia baixar logo, como sempre acontecia. Desta vez não.
Começava a maior tragédia climática da história do RS. Fomos resgatados por voluntários corajosos.
Deixei tudo pra trás, menos minha cachorra vira lata. No ponto de resgate, meia dúzia de pessoas, com dois botes retirando gente das casas.
Nos outros dias, centenas apareceram para ajudar.
De todos os lugares.
Muita solidariedade. Acolhimento.
Mas jamais vou esquecer uma cena.
Ao ser levado para a casa dos filhos, passei por padarias e restaurantes onde pessoas tomavam café e jantavam sem se importar com o que estava acontecendo.
Toda tragédia tem o lado bom e o lado ruim.
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