No dia 24 de abril eu peguei um voo de POA para Ribeirão Preto. Ficaria por lá trabalhando durante 10 dias.
Antes disso, tudo lindo lindamente. Depois de dois anos de pandemia, finalmente as coisas pareciam começar a se alinhar. O faturamento da minha agência de produção de eventos estava quase no patamar de antes da pandemia, clientes novos, novos e desafiadores projetos estavam aparecendo, por conta disso em março quitei meu apartamento e, em abril, antes de embarcar, eu tinha acabado de receber o contrato de compra e venda de um segundo imóvel.
No dia 27 de abril, meu namorado me relatou que estava chovendo bastante em POA, tempo chato (…) aqueles papos normal que a gente tem. Ele reclamou da chuva, eu do calor de 39 graus de Ribeirão e da saudade um do outro. Nos dias seguintes a mesma coisa.
Mas no dia 30 a coisa piorou. Havia relatos de desmoronamento de terra, alagamentos em cidades do interior do Estado e a previsão do Guaíba transbordar. A medida era fechar as comportas como em setembro no ano anterior, mas até aí, tudo mais ou menos normal, porque em setembro elas foram fechadas e logo a água já estava normalizada, mas claro, estávamos apreensivos pelos gaúchos do interior do Estado.
No dia 03 de maio, um dia antes da minha volta, as notícias não eram animadoras. O aeroporto teve de ser fechado, voos de sexta e sábado foram cancelados, deslizamentos de terra, rios transbordando, comportas do Cais Mauá em POA fechadas, vários bairros de Porto Alegre alagados, mais de 14 bairros de Canoas alagados também, quase 100% da cidade de Eldorado do Sul debaixo d’água, todas as ilhas (dos Marinheiros, do Pavão, da Pintada…) próximo à cidade de Guaíba submersas, a cidade de Guaíba arrasada pelas incessantes chuvas também. Eu lia, via vídeos e ouvia as notícias sem acreditar, atônita, imóvel.
Não consegui voltar no dia 04. Voltei no dia 05 e fiz uma viagem de aproximadamente 24 horas de Ribeirão Preto a Porto Alegre, com paradas em Barueri e em Curitiba. Cheguei em uma outra Porto Alegre, completamente diferente daquela Porto Alegre do dia 24 de abril. Por sorte e privilégio minha família, meu namorado e minhas amigas mais próximas não sofreram danos, mas mesmo assim eu chorava.
Chorava de ver pessoas que perderam entes queridos, chorava pelos animais que não conseguiram ser resgatados, chorava de ver as memórias indo embora junto com a casa, a empresa, a água e o lodo.
Eu não sei muito o que pensar. De novo estamos num mood pandemia, sabe? Me sinto meio barata tonta. Sei que não será fácil e não será rápido, mas sigamos aqui, com força e fé!
Deixe um comentário